segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

APRENDA... QUE. DONS NÃO TE FAZ MELHOR QUE SEU RMAO. MAS PODERÁ MUDAR A SUA VIDA.



Dons são capacidades que Deus concede ao ser humano para a glória divina e edificação das próprias pessoas, sejam eles dons naturais, espirituais ou ministeriais. No presente artigo não vamos abordar os dons naturais que são obras da graça comum nos seres humanos como uma bela voz para cantar, tocar algum instrumento, pintar, desenhar e outros; e nem dissertarei sobre os dons espirituais. Esses ficam para um próximo post. Nosso foco aqui é entender na sagrada escritura os dons ministeriais, assunto esse que às vezes causa confusão no meio cristão, principalmente entre os chamados pentecostais*.

Existem na Bíblia várias listas de dons espirituais concedidos por Deus ao seu povo como capacitações para o exercício do trabalho do Senhor aqui na terra. Em 1 Co 12.4-11 temos Os dons do Espírito Santo; em Rm 12.3-8 temos outros dons mencionados pelo apóstolo Paulo para edificação do corpo de Cristo e ainda tem-se os dons ministeriais citados em Efésios 4.11, objeto do presente estudo. Pela construção textual de Efésios 4.11 são quatro e não cinco como costumeiramente se afirma. Lá Paulo diz: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolo, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres.” Como percebe-se temos apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres. O fato de alguns estudiosos entenderem que são cinco e não quatro fez alguns cristãos compararem os dons ministeriais com os cincos dedos da mão, porém mesmo que essa totalidade correspondesse a realidade textual de Efésios 4.11 ainda assim a comparação com os dedos da mão não ajuda e nem esclarece biblicamente o exercício dos dons ministeriais no seio da igreja. Os dons devem ser explicados à luz da Bíblia e não com uma mera comparação de certos aspectos subjetivos de cada dedo da mão. Mas a razão de muitos estudiosos entenderam que se trata de quatro e não cinco dons ministeriais é pela ausência do pronome “outros” entre pastores e mestres. A interpretação coerente é que pastores e mestres na verdade significa pastores-mestres, ou seja, um dom com duas características que é pastorear (cuidar do rebanho) e ensinar (alimentar o rebanho). Essa compressão é defendida por interpretes de várias vertentes teológicas como Wayne Gruden [1]; John Macarthur [2]; Louis Berkhof [3]; e Stanley Horton [4].
Inicialmente é importante saber que os dons ministeriais de Efésios 4.11 são diferentes daquilo que chamamos de ordenação ministerial quando a igreja reunida reconhece alguém ao exercício do presbiterato ou diaconato. O quadro a seguir estabelece as diferenças bíblicas e práticas entre dom e ordenação ministerial.
I. DIFERENÇAS ENTRE DOM MINISTERIAL E ORDENAÇÃO MINISTERIAL (ECLESIÁSTICA)


Explicando melhor podemos afirmar que numa igreja sem visão bíblica podemos ter um irmão com o dom do socorro (1Co 12.28) sem o ofício de diácono ou com o ofício de diácono sem o dom do socorro. E ainda podemos ter um membro com o dom de pastor sem o ofício de presbítero ou um presbítero sem o dom de pastor. No primeiro caso Deus capacitou e a igreja não reconheceu e no segundo caso a igreja elegeu a quem Deus não capacitou. Isso não significa que aquela frase tão citada pelos evangélicos hoje como se fosse um texto bíblico: “Deus não chama os capacitados, mas capacita os escolhidos,” seja verdadeira. Pelo contrário, essa expressão aparentemente cristã reformada e usada no momento da ordenação de alguém por muitos arminianos não confessos, esconde uma presunção de uma humildade exaltada. Afinal o que significa um “capacitado” e “escolhido” no enunciado? Por exemplo, Paulo aos 21 anos já possuía o equivalente a dois PhD, portanto altamente capacitado e mesmo assim o Senhor o escolheu e o capacitou ao apostolado. Na verdade todas as pessoas soberanamente chamadas pelo Senhor sejam humanamente capacitadas ou não, são por ele treinadas e capacitadas ao santo serviço. A obra é de Deus e é Ele quem chama e capacita os escolhidos. O Senhor não chamará alguém pelo fato de ter apenas o ensino fundamental, por exemplo e rejeitará outro pela simples questão de ser um pós-graduado.
II. OS DONS MINISTERIAS DE EFÉSIOS 4.11
Os dons ministeriais são capacitações dadas por Cristo a alguns membros do seu corpo para o exercício de certas funções que glorificam ao Senhor e edificam a fé da comunidade cristã. O contexto de efésios 4.11 mostra que assim como os generais da antiguidade dividiam seus despojos conquistados com seus soldados, após as vitórias nas batalhas, semelhantemente Cristo triunfou sobre os poderes das trevas, distribuiu dádivas (dons) aos servos por ele chamados. Apesar da passagem bíblica de efésios ser ligeiramente diferente de Salmo 68.18, o conceito principal é o mesmo. Afinal os servos de Deus tantos são presentes do Pai ao seu filho Jesus como destaca o salmo quanto eles mesmo se tornam presentes do filho de Deus dados a sua igreja para edificação do corpo de Cristo destacado no texto paulino aos efésios. Como já dissemos dons são diferentes de ofícios, pois se não fosse assim ainda hoje a igreja reunida aprovaria e realizaria imposição de mãos para apóstolos, profetas e mestres, tal como acontece com os ofícios de diácono e presbítero, e é claro, há denominações que realizam equivocadamente essa cerimônia também para evangelistas.
1. Apóstolos: “Alguém enviado com uma comissão”. Jesus tinha muitos discípulos, mas escolheu apenas doze apóstolos. Os apóstolos davam testemunho da ressurreição de Jesus e eram homens que haviam andado com Cristo Jesus (1Co 9.1,2). Como apóstolos eram escolhidos pelo Senhor e não pela igreja, então a vaga de Judas foi preenchida por Paulo, escolhido pelo Senhor (At 9.4-6) e não Matias, escolhido por Pedro e a congregação de irmãos antes do Pentecostes (At 1.15-25). O texto de Atos 1 sobre a escolha de Matias é descritivo e não prescritivo e em nenhum momento temos a aprovação do Senhor no processo eletivo da congregação reunida em Jerusalém. Pedro cita o texto de Salmos, uma oração é feita e até a sorte foi lançada, mas o Senhor permaneceu em silêncio todo o tempo. Mesmo que se use a expressão os doze antes de Paulo conforme At 6.2, a expressão doze era usada até mesmo depois da morte de Judas e antes da escolha de Matias conforme 1 Co 15.5. Os apóstolos lançaram o fundamento da igreja (Ef 2.10) e depois do alicerce lançado não há mais necessidade de apóstolos. Em apocalipse fala-se sobre os doze fundamentos do muro da cidade que são os nomes dos doze apóstolos (Ap 21.14). Outros na Bíblia foram chamados de apóstolos por que assim foram considerados pela igreja por causa de seu trabalho e não porque o Senhor os escolheu como apóstolos. (At 14.14; Gl 1.19)
A Bíblia fala de doze Apóstolos do Cordeiro, escolhidos pelo Senhor Jesus e se Paulo não for o 12º apóstolo, então ele estará de fora no julgamento das nações que será realizado pelos doze apóstolos do Senhor (Mt 19.28). É verdade que a teologia reformada ao longo da história afirma que a vaga de Judas foi preenchida por Matias, mas isso não significa que não haja dúvidas ou rejeição por parte de alguns teólogos reformados nessa questão. O anglicano J. I. Packer parece deixar o assunto em aberto[5]. Já Campbell Morgan, o antecessor de Lloyd-Jones, dizia que “a eleição de Matias foi errada... Ele era um homem bom, mas o homem errado para a posição... Não me disponho a omitir Paulo dos doze, pois creio que ele era o homem de Deus para preencher a vaga” [6]. Outro que defendia claramente a posição de Paulo como o 12º apóstolo era o presbiteriano, pastor Mario Neves no seu comentário de Atos dos Apóstolos, escrito em fevereiro de 1944 e publicado em março de 1953[7]. E caso o apóstolo Paulo não seja do grupo dos doze não dar para entender porque seu apostolado era tão atacado e ele reiteradamente tinha que defendê-lo (1Co 1.1; 2Co 10 e 11; Gl 1.1; Ef 1.1).
2. Profetas: Não se refere ao dom de profecia, mas aqueles que tinham a mesma autoridade dos apóstolos e junto com eles lançaram os fundamentos da igreja (Ef 2.20). Também não se refere aos profetas do AT como dizem alguns comentaristas. Basta para isso comparar a ordem de Efésios 2.20 com I Pedro 3.2 e percebe-se facilmente que a expressão “apóstolos e profetas” é invertida. E no contexto da epístola aos Efésios o apóstolo Paulo fala que “agora foi revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3.5). O advérbio agora refere-se aos apóstolos e profetas do Novo Testamento e não do Antigo Testamento, até porque a revelação da introdução dos gentios na família cristã não fora revelada aos profetas veterotestamentários. Pode-se entender ainda que homens como Marcos, Lucas, o autor aos Hebreus, o autor do livro de Tiago e Judas autor da epístola que leva seu nome, foram profetas com a mesma autoridade apostólica e por isso seus escritos são inspirados, canônicos. Além desses profetas escritores do NT, certamente a igreja primitiva teve também profetas orais como em At 15.32. Assim como no AT tivemos profetas clássicos (escritores) como Moisés e Jeremias, e também profetas orais que não escreveram seus pronunciamentos como Elias e Eliseu, acredito que no NT também aparece a mesma compreensão teológica. E para facilitar ainda mais o entendimento sobre as diferenças entre o dom ministerial de profeta que cessou e o dom de profecia que continua um pequeno quadro comparativo sobre os dois ajuda no estabelecimento das diferenças.
II. DIFERENÇA ENTRE O DOM MINISTERIAL DE PROFETA E O DOM DA PROFECIA NO NOVO TESTAMENTO


3. Evangelistas: “Portadores de boas novas” (Rm 10.15). Embora todos devamos evangelizar não significa que todos temos o dom de evangelista (2Tm 4.5). Felipe era um evangelista (At 21.8) e sua habilidade (dom) em evangelizar é vista na sua evangelização do eunuco em Atos 8.26-40. Mas apesar de vermos no livro de Atos uma cerimônia pública com a imposição de mãos aos sete diáconos e entre eles, Filipe; não vemos em lugar nenhum uma imposição de mãos para a ordenação de Filipe a evangelista como acontece hoje em certas igrejas. É portanto antibíblico denominações protestantes ordenarem membros a evangelistas como intermediários entre presbíteros e pastores. Além de não exercerem uma real função de evangelização, adquiriram ministerialmente um título acima dos presbíteros que na Bíblia são os supervisores da congregação. Hoje evangelista (consagrado ou autorizado) em certas denominações tornou-se mero título de ostentação no lugar do serviço de testemunhar sobre a pessoa de Cristo. E sem contar que assim como as igrejas que ordenam evangelistas com base em Efésios 4.11 também deveriam pelo mesmo critério ordenar profetas e mestres com base na mesma passagem bíblica, até porque algumas igrejas acreditam que o ministério de profeta não cessou.
4. Pastores e Mestres: Como já disse o termo “outros” não aparece entre pastores e mestres o que nos leva a acreditar que se trata de pastores-mestres. É um dom com dupla função. Pastor realça o cuidado com as ovelhas e mestre refere-se ao ensino (alimento) da palavra ministrada aos crentes. Claro que alguém pode ter o dom do ensino sem o dom de pastor-mestre (Rm 12.7), mas o dom de pastor sempre envolverá o de mestre e por isso será um pastor-mestre. Nas qualificações para o ofício de presbítero é exigido que o mesmo seja “apto para o ensino” (1 Tm 3.2). Há presbíteros que governam bem a igreja e não ensinam e por isso não pode ser chamado de pastor-mestre. Com base em 1Tm 5.17 a teologia reformada diferencia os presbíteros docentes dos regentes no sentido que todos regem a comunidade cristã (governam), mas nem todos exercem a docência (ensino) aos cristãos. Certamente quando Atos 13.1 menciona os mestres da igreja de Antioquia refere-se aos seus pastores. Sabemos que Deus concedeu e concede dons a sua igreja, sejam espirituais ou ministeriais e a igreja reconhece certos dons na realização pública de cerimônias para o exercício dos ofícios de presbíteros e diáconos. Dos dons ministeriais citados em Efésios 4.11 dois deles cessaram: apóstolos e profetas porque envolvem o fundamento da igreja que foi posto definitivamente. Diferente do dom da profecia que continua até a vinda do Senhor, o dom ministerial de profeta, semelhante aos apóstolos cessou com o fechamento do cânon. Afinal apóstolos e profetas são citados em Efésios 3.20 como parte do fundamento. Os outros dons que são evangelistas e pastores-mestres ainda são concedidos porque envolve o trabalho de edificação (construção) da igreja sobre o fundamento que já foi posto pelo Senhor. Aqueles que discordam dessa interpretação alegam que Efésios 4.12,13 afirma que os dons de Cristo são para o aperfeiçoamento dos santos e “até que cheguemos à unidade da fé no pleno conhecimento do filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.” E isso só reforça o fato que essa unidade e maturidade é alcançada porque os dons ministeriais fundacionais (apóstolos e profetas) e os dons ministeriais edificacionais (evangelistas e pastores-mestres) foram dados pelo Senhor.
Notas
*Não me denomino pentecostal porém não tenho nada contra quem assim me classifica até porque creio na atualidade dos dons. Apenas considero o termo pentecostal inadequado para referir-se a continuidade dos dons espirituais. No livro de Atos os discípulos não eram chamados de pentecostais. E caso o Espírito Santo tivesse descido no período da páscoa os discípulos nem por isso seriam chamados de pascoais, igualmente o fato do Espírito descer na festa do pentecostes não justifica o uso do termo pentecostal aos seguidores de Cristo. Como cessacionistas são aqueles que restringem a operação dos dons ao período apostólico, principalmente o batismo no Espírito Santo, então não cessacionista é um termo teologicamente preferível e mais adequado aqueles que como nós creem nos dons espirituais
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